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Frida Schmidt

Frida Schmidt é filha de imigrantes austríacos, Andreas Hönnegger e Luise Hönnegger. Nasceu em São Caetano do Sul, cidade do ABC paulista, em 1924. Estudou por 4 anos no ensino primário na Johannes Keller Schule, escola alemã localizada no Bairro Santa Paula na cidade de São Caetano do Sul. Trabalhou como modista em São Paulo, na loja Modas Boriska, até se casar. Após o casamento, costurou em casa para clientes particulares. Bernard Robert Schmidt, imigrante alemão e colega de escola, foi seu marido por 58 anos, com quem teve 3 filhos. Conta histórias da situação dos imigrantes recém-chegados no Brasil, de seus sogros na Primeira Guerra Mundial, além de memórias da Segunda Guerra e do Estado Novo brasileiro.
Imagem do Depoente
Nome:Frida Schmidt
Nascimento:19/07/1924
Gênero:Feminino
Profissão:modista
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:São Caetano do Sul

Arquivos de Imagem

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Avós da aniversariante ainda na Áustria
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Mãe ainda na Áustria, com colega de trabalho
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Aniversariante com 1 ano de idade
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Aniversariante com amiga na infância, e fiel cão escudeiro
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Aniversariante com o fiel escudeiro
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Pai da aniversariante no sítio em Mogi das Cruzes
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Lembrança da primeira comunhão
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Irmão, Cunhada e Sobrinha
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Aniversariante e sobrinha tomando sol
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Amigas desde a adolescência
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Com amigas no Aramaçan, em especial a amiga Maria Zaremba
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Em outra tarde de lazer com amiga
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Primeira comunhão da sobrinha Gertrudes
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Irmão, cunhada e sobrinha Gertrudes
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Com o futuro marido na rua Direita em São Paulo
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Já com o primogênito Roberto, nascido em 1944 no colo
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Cunhada e sobrinha com primogênito Roberto
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Avós maternos com primogênito Roberto
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Roberto e segundo filho Ricardo
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Aniversariante e marido com Roberto e Ricardo nascido em 1946
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Filha caçula Irene nascida em 1951
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Roberto e Irene
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Aniversariante, sogro e Irene
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Aniversariante e Irene no sítio em Guarulhos
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Aniversariante, mãe dela, filhos e amigos de Franz no sítio em Guarulhos
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Primo Henrique, Ricardo e Irene
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Sobrinha Gertrudes no dia do Casamento
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Sobrinha Gertrudes e Irene na festa de casamento
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Homenagem de Roberto para o dia das mães
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Homenagem de Ricardo para o dia das mães
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Colação de grau do ginásio - Irene
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Colação de grau secretáriado - Irene
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Como vocês podem ver o amor pelos felinos é genético
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Com a Loreta, gatinha que morreu aos 25 anos
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Visita a uma amiga internada em casa de repouso com pastor e amigos da comunidade
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Em férias em São Lourenço
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Momento família antes de viagem de Irene para Alemanhã
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Casamento Ricardo/Agnes
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Casamento Roberto/Sonia
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Conjunto de choro do marido em apresentação


Transcrição do Depoimento de Frida Schmidt em 11/12/2008
  Depoimento de Frida Schmidt - 84 anos

Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 11 de dezembro de 2008.

Memórias do ABC - Núcleo de Pesquisas e Laboratório de Produções Midiáticas da USCS 

Entrevistadores: Mariana Lins e Priscila Perazzo

Operador de Câmera Felipe  Cicco

Transcritores: Maria Amélia F. Perazzo e Gislene Rodrigues de Oliveira

Pergunta: Dona Frida, para a senhora começar seu depoimento dizendo seu nome completo, sua data de nascimento e onde a senhora nasceu.

Resposta: Meu nome é Schimidt,. Eu nasci em São Caetano do Sul, no dia 19 de julho, de junho,  de 1924 no bairro da Candelaria.

Pergunta: Eu queria que a senhora contasse um pouco de sua infância em São Caetano, da trajetória de imigrantes de seus pais, da sua família, se a senhora tem irmãos que vieram da Áustria

Resposta: Eu sou filha de imigrantes austríacos que imigraram aqui no Brasil no ano de 1921, após a 1ª. Guerra Mundial. Eram (três ou treze???) famílias austríacas e com elas vieram meu falecido pai, meu irmão e minha mãe. Chegaram na Ilha das Flores no Rio de Janeiro, que hoje em dia é uma penitenciária.

Pergunta : Naquela época a Ilha das Flores era uma hospedaria de imigrantes?

Resposta: Era uma hospedaria de imigrantes no Rio de Janeiro. Do Rio de Janeiro eles eram .... não sei como se diz, mandavam para as fazendas de café. Meus pais foram escolhidos para uma fazenda em São José do Rio Pardo, mas não tiveram muita sorte; não era uma boa fazenda nem um bom fazendeiro, o que era uma exceção naquele tempo porque, geralmente, tratavam muito bem os imigrantes. Ai ficaram lá, depois vieram para São Paulo, ficaram na hospedaria dos imigrantes aqui em São Paulo até que cada um foi fazendo sua vida, todas as famílias, cada um para o seu lugar. Meus pais foram para São José do Rio Pardo, mas meu pai não era da lavoura, então não estava bem lá.

Pergunta: E o que seu pai fazia lá na ...

Resposta: Meu pai era laminador, laminador de aço. Então ele sempre dizia:"Eu não me acostumo com esse trabalho de lavoura". Dai ele e a mamãe vieram aqui para São Paulo. Ela sozinha primeiro.Ele ainda ficou um pouco lá porque das mulheres eles não faziam muita questão, não trabalhavam na lavoura, não é?  Mas os homens eles mandavam para (incompreesível) ficarem na fazenda, mas poucos ficaram. Ai a mamãe veio aqui para S. Paulo trabalhar num hotelzinho que era muito conhecido dos austríacos e alemães, perto da Estação da Luz e ela ficou trabalhando ali. Meu pai também veio aqui para S. Paulo.

Nos domingos eles saiam assim para passear um pouco, então vieram aqui para São Caetano. Quando vinham subindo a Rua Amazonas que não era calçada nada naquele tempo, estavam conversando, então saiu um senhor,  senhor Ricardo: "Você é alemão?", ele falou. "Sim". "Entra aqui um pouco, vamos conversar". Aí eles gostaram do lugar e já compraram um terreno lá, pertinho da Candelaria.

Pergunta : Candelaria que a senhora fala é a igreja?    

Resposta :  Igreja Candelaria, aliás agora não é Monte Alegre ? Nem sei como chama o bairro agora. É Monte Alegre sim, não é?

Pergunta : A senhora nasceu aqui? Sua irmã nasceu aqui também?

Resposta : Não, não, eu não tenho irmãos, só um irmão que veio junto, mas o irmão era moço, bem mais velho do que eu, que é o pai da Gertrudes, né?

Pergunta: E ele morou junto com seus pais ou já foi fazer outra vida?

Resposta: Não, ele morou um tempo até casar-se. Casou-se também com uma descendente de austríaco.

Pergunta: Ele trabalhou também na fazenda?

Resposta:  Só pouco tempo porque eles vieram logo aqui para São Paulo. Primeiro para Ribeirão Preto porque não havia muitas laminações naquele tempo. Havia uma grande em Ribeirão Preto. Meu pai se inscreveu para trabalhar lá, mas não conseguiu trabalho, então vieram aqui para S. Paulo.

Pergunta :  Entre Santo André e São Caetano não existia nada?

Resposta : Aqui em São Caetano foi fundada a Companhia Mecânica, então meu pai conseguiu trabalhar lá, trabalhou muitos anos. A Companhia Siderúrgica São Caetano era onde hoje em dia e aquela loja Le Roi ... pegado ao moinho Santa Clara e eles construíram um quartinho onde haviam comprado terreno e, devagarinho foram se levantando.

Pergunta: Aquele senhor da casa, tipo agente imobiliário?

Resposta: Não, não, era só uma pessoa que morava na Rua  Amazonas.

Pergunta: Era completamente desconhecido do seu pai?

Resposta: Era desconhecido. Ele só começou a conversar porque ouviu eles falarem alemão porque a língua oficial da Áustria era o alemão.

Pergunta: E a terra dos seus pais na Áustria, como era a organização dos Estados ? .(incompreensível)

Resposta: O Brasil se ofereceu para aceitar imigrantes e a  passagem não custava nada, só tinha que se inscrever e fazer todos os documentos.

Pergunta: Seus pais quiseram vir por qual motivo ?

Resposta: Do pós guerra. Quem passou a guerra na Europa não quer nunca mais passar por isso.

Pergunta: Naquela época...

Resposta: Primeira Guerra Mundial (incompreensível) toda a Europa

Pergunta : Ai seus pais se instalaram ali e em 1924 a senhora nasceu.

Resposta :  É

Pergunta: A senhora foi sempre filha única, mas seu irmão vivia longe ....

Resposta: Não, meu irmão .....

Pergunta : .... mas com sobrinhos bem próximos ...

Resposta: Sim, porque meu irmão também se instalou aqui em S. Caetano. Casou-se e foi morar na rua Rio de Janeiro. Construiu um quarto e uma cozinha e depois foi aumentando, melhorando.

Pergunta: Depois da senhora seus pais não tiveram mais filhos ...

Resposta: Não, só eu.

Pergunta: Como foi sua vida aqui?

Resposta: Muito simples, com bastante luta, o que os pais sempre tinham eram muito simples, mas muito boa.

Pergunta: As  brincadeiras, o que eram ?

Resposta: Pular corda, jogar pedrinha, pega-pega, ir a casa das amigas de escola, uma na casa da outra para conversar. Daí, depois houve um cine-parque que hoje em dia é o Grupo Escolar Bartolomeu Bueno que hoje em dia também é a sede do Serviço Militar. E a escola também era ali.

Pergunta: Essa escola que a senhora esta falando era Grupo Escolar.?

Resposta: Sim, era Grupo. Depois passou para a Escola Alemã que era paga naquele tempo, dez mil reis por mês. Eu fiquei estudando naquela escola. Tínhamos aula o dia todo. Aula de manhã, ou português, ou alemão, que sempre foi português e alemão e a tarde havia ginástica que naquele tempo era uma coisa assim extraordinária, porque não se conhecia também, não se usava. As aulas eram a tarde; Trabalhos Manuais também só era a tarde. Então, praticamente a gente tinha aula de manhã e a tarde. Ai freqüentei a escola até o 4º. Ano.

Pergunta: Mais ou menos dois anos a senhora .......

Resposta: ... mas eu só fiz quatro anos de escola, porque a escola era assim oito anos, que equivalia ao ginásio de hoje. Aprendia Português e Alemão. Era uma escola muito, muito boa.

Pergunta: Dona Frida, a organização da escola, tanto na parte do currículo das matérias quanto da própria aula dos professores era muito próxima das alemãs ou das austríacas - alemãs?

Resposta: Não, não era. Próxima? Digo próxima no sentido da gente aprender tudo de lá também, mas não havia assim uma relação. E o (Iohanne Stella) já havia fundado uma escola aqui em São Paulo. Então ele viu que aqui na Vila Paula, aqui era Vila Paula, havia muitos descendentes de alemães entre ele os iugoslavo, checos, mas os que falavam a língua alemã. Então, ele fundou essa escola onde hoje em dia é o Teuto.

Pergunta: Por isso é uma escola de austríacos, checos, iugoslavos, descendente dessas nacionalidades. Não era só para alemães.

Resposta: Não, não, era só para alemães. Quem pagava, pagava. Até havia duas alunas que eu me lembro muito bem que eram brasileiras, mas elas queriam muito aprender o alemão, então elas estavam frequentando a escola lá. Aí, chegou no 4º. Ano, meu pai falou :" Você tem que trabalhar, aprender um oficio".

Pergunta: No 4º. Ano a senhora tinha 10 anos?

Resposta: Não, não.

Pergunta: tinha mais ?

Resposta: Tinha 13 anos. Ai havia uma senhora, hoje em dia na Rua Floriano Peixoto, uma alemã também costureira. Então, meu pai foi conversar com ela, então ela falou, " ela pode vir aqui, eu vou ensinar assim o básico". E eu fui aprendendo. Ai havia assim na rua, mascates, né, que vendiam assim na rua. Entre eles o Samuel Klein.

Pergunta: Das Casas Bahia?

Resposta: Das Casas Bahia. Então ele vinha sempre em casa e ele falava para mamãe - mamãe chamava Luiza --- "Dona Luiza, compra alguma coisa de mim, eu sou alemão". Mas ele era só alemão enquanto não tinha guerra. Quando tinha guerra ele era judeu. Mas ele é uma ótima pessoa, um grande empresário. Já naquele tempo ele era muito gentil com as pessoas, favorecia bastante.

Pergunta: Dona Frida, nessa época lá na Europa as relações judeus, não judeus tinham problemas (incompreensível)

Resposta: Não, não havia.

Pergunta: As pessoas não tinham .... 

Resposta: Não, não isso só veio mesmo com o nazismo e o fascismo.

Pergunta: Mas veio para o Brasil isso?

Resposta: Veio, mas veio forte, viu! Veio forte porque quando eu sai da escola eles fundaram um grupo de jovens como hoje em dia são os escoteiros, mas eram financiados pela Alemanha.

Pergunta: Seria a Juventude Hitlerista?

Resposta: Sim, mais ou menos. Não no sentido tão rigoroso. E o meu marido fez parte disso. Era mais velho quatro nos do que eu. Mas isso depois se dissolveu completamente. Ainda bem.

Pergunta: Mas isso também as pessoas viam isso na época como  (incompreensível) Não era ...

Resposta: Sim. Mas havia também muita ilusão nessas coisas. Houve muita ilusão. Tanto que no sul os alemães ficaram tão fanatizados que até chegavam a colocar fogo nas próprias casas só para voltar para a Alemanha. Naturalmente tiveram uma grande decepção. Mas houve muitos casos. E o meu sogro também era fanático. E eles tinham uma casa. Moravam aqui na Av. Goiás, bem em frente ao portão da General Motors, onde hoje em dia é a Caixa Econômica. E meu sogro queria tanto ir para a Alemanha e minha sogra dizia       "Escuta aqui, nós temos um filho inglês e um alemão, vai combater irmão contra irmão. Eu não quero isso". Mas ele dizia "Mas você não manda". Naquele tempo mulher não era como hoje em dia que também tinha seus direitos. Mas ele chegou a se inscrever e estava marcado pra voltar para a Alemanha. Amigos dele já tinham ido. Quando ele foi chamado pela Imigração Brasileira já havia amigos dele que estavam na Bahia, em Salvador, trancados num navio e já foi dito que estourara a guerra, então modificou aqui ...

Pergunta: ( incompreensível)

Resposta: Dá sim !

Pergunta: A senhora chegou a saber de pessoas que foram a Europa se alistar?

Resposta: Muitos! Da escola de livre e espontânea vontade. Até perdemos colega de escola lá na guerra.

Pergunta: E a escola? Quando começa a guerra a escola já tinha sido fechada?

Resposta: Bom, o Brasil encampou tudo que era propriedade nazista, que era propriedade dos alemães, dos italianos e dos japoneses. E foi fechada a escola. Mas quando depois que acabou a guerra, pessoas ainda vivas, muito ligadas à escola foram ao governo, às autoridades e pediram que aquilo era uma coisa cultural, que não deveria ser tirada assim, então foi liberado. Mas, fundou-se ali esse Clube que no tempo era mais  mesmo dos estrangeiros. Mas, felizmente, hoje em dia é de todo mundo. Como aqui no Brasil se aceita todos, inclusive após guerra, muita gente que não era boa, pós a segunda guerra, né?

Pergunta: Que imigravam ...

Resposta: É. Naquele tempo vieram por livre e espontânea vontade, já não era assim imigração que chamava as pessoas para trabalhar nas fazendas. Eram pessoas que praticamente queriam fugir da guerra .

Pergunta: Sobretudo aqueles que tiveram envolvimento com o Partido Nazista..

Resposta: Sim. Essas pessoas, muitas quiseram vir para o Brasil, aliás América do Sul geral, foram muitos para a Argentina, Paraguai, Uruguai, mas principalmente o Brasil que é um pais muito maior, que é o maior deles.

Pergunta: Dona Frida, o que a senhora lembra do professor Iohannes (?). Como ele era? Como ele trabalhava?

Resposta: O professor, os professores da Escola Iohannes (?) eram pessoas formadas na Faculdade de S. Leopoldo, Rio Grande do Sul, descendente de alemães, mas já brasileiros. Então, tinham os dois professores, um que era mais assim pra canto, excursões, essas coisas e o professor geral também. Um se chamava (Iurke Brede ???) e o professor de canto e demais artes era ( Arnon Sommer??).

Pergunta: Arnon Sommer? S .O. M. M. E. R?

Resposta: Olha, você já é meio alemã porque Sommer é mesmo com dois M! Havia muito, mas hoje em dia foi modificada a ortografia. Mas havia muito H, muita letra dupla nos nomes.

Pergunta: Ainda era o tempo que as pessoas tinham muitos dialetos porque a  unificação da língua alemã é recente.

Resposta: Sim. Esses paises como a Áustria, a Iugoslávia, o currículo nas escolas lá era a língua do país, Iugoslávia, Checoslovaquia, mas aprendia-se alemão correto, mas em casa usavam o dialeto. Então todos os povos de lá falavam alemão correto e em casa o dialeto. Então, era sempre uma mistura de várias línguas. Como hoje em dia ainda temos todos os paises temos muitos dialetos. Até aqui no Brasil, não é?

Pergunta: A senhora tem lembrança de que  materiais escolares, livros vinham em alemão?

Resposta: Não, não, não. Os livros era todos produzidos em S. Leopoldo, na Editora Angélica e isso até hoje.

Pergunta: E a senhora tem alguma lembrança de ( incompreensível)  escola em S. Paulo? A senhora lembra qual era?

Resposta: Não, não sei.

Pergunta: Porque vocês costumavam ...  porque tinham duas importantes escolas alemãs em  S.Paulo ...

Resposta: Ah! Várias. Naquele tempo havia várias; havia uma escola na Vila Mariana, uma na Mooca, Escola Mooca-Brás, na Cantareira, no Tremembé e as principais e maiores eram a Escola de Porto Seguro hoje em dia, que era a Escola Olinda, que era numa rua ao lado da Igreja da Consolação. A rua chamava-se Olinda, então a escola naquele tempo chamava-se Escola Olinda, que hoje em dia está no Morumbi com  nome de Visconde de Porto Seguro, onde ainda se leciona o alemão.

Pergunta:E era comum vocês terem festejos ...

Resposta : Sim festejavam ......

Pergunta : (incompreensível)

Resposta: Sim, se conheciam muito e havia naquele tempo em Pinheiros um clube que se chamava Clube Germânia, então no dia 1º. de Maio havia o desfile das escolas. Então, se reuniam todas essas escolas inclusive escolas brasileiras, como Grupos Escolares e era a festa do dia 1º. de Maio.

Pergunta: E nessa festa de 1º. de Maio qual era o tipo de apresentação?

Resposta: Não, era só desfile mesmo, apresentações no conjunto, não havia almoço, não havia nada disso. Cada qual ia para sua casa, no ônibus que levava todas as escolas, né.

Pergunta. Mas (incompreensível)  na Alemanha era muito comum comemorar o dia do aniversário de Fuher. Aqui os alemães também comemoravam? Em abril?

Resposta: Olha, meu pai sempre foi contra isso. Então eu nunca tomei parte. Minhas colegas sim. Havia as reuniões dessa juventude que era a favor de Hitler, então até nas escolas se comemorava " Hi Hitler". Meu pai falou :" Eu não quero você no meio dessa gente e não quero que se fanatize por isso". Me tirou da escola.

Pergunta: A escola (incompreensível)  passou a exigir isso de vocês? Um avanço...

Resposta: Acho que não a escola, acho que era mesmo do nazismo vindo de lá. Não acho que fosse da escola mesmo, mas naquele tempo e até hoje o Brasil é muito aberto às coisas, isso acontece. Meu pai falou que ele era contra e nunca deveríamos esquecer que foi o Brasil que nos acolheu.

Pergunta: Seu pai lá na Áustria tinha  engajamento político?

Resposta: Sim, ele era nacional socialista naquele tempo, ele fazia ......

Pergunta: Os socialistas é que depois foram (incompreensível)

Resposta: Não bem, porque o Hitler era austríaco de nascença, então quando ele assumiu o poder era muito difícil, havia 33 partidos, então ele uniu todos e fundou o nazismo e com isso depois ele se apresentou na Áustria e todos aderiram porque ele no principio fez muita coisa boa, arrumou trabalho para aquela gente desempregada, que isso já foi depois daquela crise violenta dos Estados Unidos em 1929.

Pergunta: Vocês já estavam no Brasil?

Resposta: Nós estávamos aqui e não sentimos nada disso, felizmente.

Pergunta: E seu sogro aqui no Brasil ?

Resposta: Meu sogro? Eles vieram aqui para o Brasil e ele trabalhou na General Motor, porque ele falava perfeitamente o inglês, também.

Pergunta: Seu sogro era (incompreensível) na época?

Resposta: Meu sogro era alemão e minha sogra inglesa.

Pergunta: Quando eles chegaram no Brasil?

Resposta: 1921 também .

Pergunta: Mas não no mesmo navio.

Resposta: Não no mesmo navio.

Pergunta: Nem foram para alguma fazenda?

Resposta: Não, meu sogro não foi para fazenda porque ele era destinado a uma fazenda em Araraquara, mas minha sogra sempre teve problemas de saúde, então ele falou " Não, eu não vou". "Então você se vira aqui sozinho". Então ele ficou na Mooca, morando na Mooca de aluguel  e foi trabalhar no sitio do fundador do Hospital Samaritano de S. Paulo, Dr. Jofre Len, que tinha um sitio em Santo Amaro. Então ele ia lá e cuidava do sitio, mas ele não gostava muito, mas ele se inscreveu na Companhia Antártica. Quase todo alemão que veio naquele tempo trabalhou na Antártica e a Antártica foi fundada por alemães, um, dois amigos. Um gostou daqui, ficou e o outro voltou par a Alemanha. Ai ele trabalhou na Antártica bastante tempo e depois ele comprou terreno aqui na Av. Goiás e construiu a casa e ficou morando ai muito anos.

Quando veio o Nazismo ele queria voltar, mas felizmente não chegou. E nesse tempo ele havia comprado um pequeno terreno em Guarulhos, mais certo em (Picança??), um pouco retirado de Guarulhos. Então meu marido e meu cunhado fizeram um quarto pequeno, então meu sogro e minha sogra foram morar lá. Mas aí minha sogra ficou doente e acabou falecendo. Então meu sogro estava sozinho ali, então ele sempre dizia " Ah! Não quero ficar sozinho!" Ai ele conheceu um senhora que ficou morando com ele, mas meu sogro também falava:"Eu não posso mais cuidar disso aqui, então eu quero ir para o asilo e quero que a Eugenia, que era a nova companheira dele, vai comigo. Ela prometeu, diz que iria, mas ela não foi. Então ele deu uma parte do terreno e foi para um asilo alemão lá na Raposo Tavares, que existe até hoje, tem mais de 100 anos. Ele ficou lá até falecer.

Pergunta: A senhora falou que conheceu seu marido na escola. Como foi?. Vocês eram da mesma ...

Resposta: Não. A minha classe do primeiro ao quarto ano. Do quinto ao oitavo era a classe mais alta, mais adiantada também, praticamente hoje o ginásio. Como ele era mais velho, ele fazia parte, mas as aulas eram mais ou menos nos mesmos horários e a gente se conhecia. Eu admirava meu marido muito, porque naquele tempo ele já tocava violino.

Pergunta: Como era o nome dele?

Resposta: Bernard Rober Schmidt. Quando depois fez a carteira de identidade foi abolido o Bernard. Então os colegas de escola e os mais velhos ficaram conhecendo ele como Bernardo. Mas os mais novos era "Seu Roberto".

Pergunta: E faz a carteira de identidade depois da modelo 19? Ele já tinha ...

Resposta: Sim, uma ...  outra

Pergunta: Seu marido se naturalizou?

Resposta: Não. Ele quis se naturalizar e ai cobravam (incompreensível) e ele desistiu. Não naturalizou, faleceu alemão.

Pergunta: Então a carteira (incompreensível) estrangeiro?

Resposta: Estrangeiro sim, era a modelo 19.

Pergunta: A senhora tem a carteira dele ainda?

resposta: Tenho sim, só que não trouxe.

Pergunta: Não, hoje não. Depois a gente põe na máquina de ...........

Resposta: Tenho sim, tenho até os boletins da escola dele e os meus. Os dele sempre melhores, mais inteligente. E homem geralmente, quando estuda, estuda mesmo. Moça antigamente ----- hoje em dia já é diferente --- moça antigamente, entre outras coisas, gostava mais de sair, de ir ao cinema naquele tempo e não era tão apegada aos estudos. Hoje em dia, felizmente, não é mais assim.

Pergunta: Na escola a senhora aprendeu a bordar, cozinhar, cuidar da casa, essas coisas assim?

Resposta: Sim! Sim! Tinha aulas de ... como se chamava?  Trabalhos manuais! Bordado, tricô, crochê, remendos ....

Pergunta: E a ginástica? Era muito enfatizada?

Resposta: Sim, exercícios como hoje em dia se usa. Isso já naquele tempo onde, no tempo em que a rua Piauí, aquele pedaço era vazio, não tinha casa, não tinha nada, era um campo, então ali é que se fazia os exercícios. E até se jogava bola, já naquele tempo!

Pergunta: A senhora acha que a escola dava mais ênfase para a ginástica do que para ...

Resposta: Ah! Sem dúvida! Sem dúvida porque nosso país é muito novo, então nós aceitamos muita coisa que vem do estrangeiro. E na Europa se praticava ginástica há muitos anos. Então essas coisas vieram da Europa. Até nosso futebol.

Pergunta: Se a senhora não se incomodar, já que a senhora mencionou como era seu contato com seu marido...

resposta: Não! Agente se conheceu na escola...  

Pergunta: Quando a senhora começou a namorar?

Resposta: Não, não, no tempo de escola não. Ai meu marido  me tirou da escola e meu marido começou a trabalhar. Ele terminou esse ginásio com 14 anos e já começou a trabalhar. Então, ele foi trabalhar em S. Paulo e ...

Pergunta: No que?

Resposta: Num escritório.

Pergunta: Entre conhecê-lo, admira-lo pelo violino  ...

resposta: Não, não. A gente era amigo, só amigo. Só com ... depois eu trabalhava em S.Paulo, ele também. Então havia uma turminha de S. Caetano que viajava no penúltimo vagão do trem. Então, todos se conheciam. Mas cada um em S. Paulo, lá ia para seu lado. Eu já tinha quase 18 anos. Ai nós começamos a namorar, com 19 anos eu fiquei noiva e casamos no mesmo ano, 1943.

Pergunta: Nesse período o Brasil estava em plena guerra, já ... era um momento em que o Brasil ...

Resposta: Não, era o pós-guerra, né?

Pergunta: Não, 43 não.

Resposta: A guerra acabou em .... 44 praticamente, que a Alemanha capitulou. Mas oficialmente 45.

Pergunta: Em 44 ela já não estava (incompreensível)

Resposta: Não, em 43 sabia que tinha guerra lá ...

Pergunta: Então, aqui no Brasil vocês se sentiam ...

Resposta: Sim, sim. Se sentiu muita falta de muita coisa.

Pergunta: Como foi a vida (incompreensível)

Resposta: Não, como a gente era muito simples, a gente não sentia muito porque a gente foi sempre, fomos assim de feijão e arroz, mas havia muita coisa que não tinha. Por exemplo: farinha, não existia farinha de trigo. macarrão .... não existia, tinha da Argentina. O primeiro pão que eu fiz foi feito com macarrão; a gente punha o macarrão de molho na água durante a noite e de manhã fazia-se o pão, Mas depois foi tudo melhorando, né.

Pergunta: Tinha "blackout". Apagavam tudo?

Resposta: Tinha, tinha sim, tinha isso  ainda foi durante o tempo da guerra.

Pergunta: Nesse desenrolar (incompreensível) o Brasil entrou na guerra contra a Alemanha. Vocês sentiram alguma coisa?

Resposta: Ah! Sim. O alemão não podia viajar nem daqui de S. Caetano para S.Paulo, sem um salvo conduto. Tinha que ter um certo documento comprovando que ele trabalhava em S.Paulo e até a gente viajava naquele vagão todos juntos, então era proibido falar alemão. E... nós às vezes conversávamos em alemão. Então tínhamos uma amiga muito... muito inteligente, muito esperta, então havia o controle nos trens para saber se estavam falando alemão. E a gente estava tagarelando. Então chegou o chefe do trem ... o controlador e ele falou: "o que vocês estão falando?". Ela falou "Inglês". "Ah", ele falou, "inglês pode"" (risos). Mas era alemão, mesmo (ri).e nesse meio tempo houve também perseguições, que é quase normal porque o Brasil era contra o Eixo, era dos Aliados. Então, houve assim certas coisas. E como em tudo sempre há fanatismo, também houve, tanto da parte dos brasileiros no tempo, como dos estrangeiros.

Pergunta: A gente houve falar que os brasileiros, agrediam verbalmente assim os alemães (incompreensível) chamavam (incompreensível).

Resposta: Sim, sim, mas ai é fanatismo, eu acho.

Pergunta: Mas nessa comunidade aqui em S. Caetano não (incompreensível)

Resposta: Não, não, porque fechou a escola. O Brasil encampou e ficou fechada.

Pergunta: A senhora acha que nessa comunidade de S. Caetano vocês fizeram  mais amigas entre brasileiros e ...estrangeiros.?

Resposta: Sim, sim. E havia também aqueles alemães que eram fanáticos, como meu sogro, no caso, havia também.

Pergunta: Mas, não sofria (incompreensível)

Resposta: Não, não se expressavam assim, dividiam a política com a amizade.

Pergunta: E, por exemplo (incompreensível)  objetos, pertences pessoais, vocês tiveram que esconder isso?

Resposta: Não

Pergunta: Não esconderam?

Resposta: Não

Pergunta:  (incompreensível)

Resposta: Deve ter havido, né? Mas aqui em S. Paulo acho que não foi muito pronunciado; mais para o sul, que o povo era mais fanático mesmo, mais alemão ainda, que até hoje, como a comunidade de Blumenau.

Pergunta: E jornais? Essas coisas saiam no jornal? Vocês liam?

Resposta: Havia o jornal alemão.

Pergunta: Qual era o jornal, a senhora lembra?

Respota: Jornal Alemão.

Pergunta: (Deustche ??)

Resposta: ( Deustche Figton ??)

Pergunta: (incompreensível)

Reposta: Não. Havia o jornal Alemão (Deustch Figton??) que até hoje existe, só que sai uma vez por semana, mas são artigos vamos dizer, só traduções. Não é um jornal, vamos dizer independente, como O Estado de S. Paulo. Mas o  (Deustche Fighton) até hoje existe, mas muito pequeno.

Pergunta: Vocês compravam aqui em S. Caetano ou em S. Paulo?

Resposta: Não, comprava em S. Caetano, nas bancas de jornal tinha, um certo numero, mais ou menos contando com as pessoas que compravam.

Pergunta: E radio, ouviam?

Resposta: O que?

Pergunta: Radio.

Resposta: Radio? Não. Não cheguei a ter um. Meus pais era muito simples. Trabalharam muito. Meu pai sempre falava:"Eu austro-brasileiro".Falava mal o português.

Pergunta: Dona Frida,  a senhora poderia contar um pouco para nós como era a alimentação na sua casa, se a mãe tinha hábitos trazidos da Áustria?

Resposta: Ah, sim, muito hábito porque o austríaco é quase como o italiano, come muita massa, só que em modos diferentes. Então tem certas coisas que a mamãe sempre fazia. E nós tínhamos galinha, coelho, a gente comia coelho, comia galinha, mas de um modo geral usava o feijão e arroz que a gente acostumou aqui, mas houve assim muita transformação, estrangeiros que se entrosaram muito bem aqui e alguns que não, que eram muito conservadores. Mas acho que isso existe em todos os paises.

Pergunta: E na sua casa, quem cozinhava? A mulher? Os homens participavam na cozinha ou não?

Reposta: Ah, não! Naquele tempo o homem era machão, não fazia nada dessas coisas! (risos) Você dá risada, mas é verdade, você tem sorte, viu! Não, mas é verdade. Meu pai foi muito trabalhador , trabalha na fabrica, era de turnos. Trabalhava das duas horas até dez da noite, das dez às seis e das seis às duas. Quando chegava em casa ele tomava um banho, se lavava, modo de dizer porque banheiro não existia mesmo, ele até fez uma banheira de madeira, uma banheira de madeira.

Pergunta: Dava certo isso?

Reposta: Deu, deu certo sim, só que era bem complicado; tinha que esquentar a água, colocar, quando soltava tinha que pegar e levar fora, para jogar fora.

Pergunta: E o vaso sanitário, como era?

Resposta: No fundo do quintal.

Pergunta: No chão, de tabua.

Resposta: Nossa! Hoje em dia a gente estranha, acha uma coisa absurda, vamos dizer; naquele tempo assim e era assim para todo mundo. E a gente não estranhava, não achava ruim. Morava na Monte Alegre, não havia ônibus. Então lá da Monte Alegre ia na estação para tomar o trem e ninguém achava ruim porque não havia outra coisa. Quem morava aqui na Santa Paula também ia a pé.

Pergunta: Duro era a volta, que é subida.

Reposta: Sim, a gente subia bem era nova, né? (ri) Hoje em dia não daria (ri).

Pergunta: E a senhora ajudava a fazer muita coisa na cozinha com sua mãe ou era mais ela?

Resposta: Principalmente, ela. Mamãe sempre trabalhou. Como se diz hoje em dia, faxineira. No Jardim América.

Pergunta: São Paulo?

Respota: Sim. Tomava o trem e ia até a Estação da Luz. Da Estação da Luz ia até a Praça do Correio tomava o bonde pro Jardim América. Ela sempre trabalhou. E quando meu pai ficou doente, a mãe falou: "Não vou mais trabalhar". E não podia, tinha que cuidar dele, não? E a patroa - que era da família Cardoso - mandou a empregada aqui em casa para "levar a Luiza de volta". Minha mãe falou "Não, eu não posso agora mais trabalhar". Ai ela ficou em casa, cuidou do papai até ele falecer e depois nós mudamos para a casa que era dos meus pais, só que era uma casa velha, toda remendada, que foi meus pais que praticamente construiu. Mas devagar a agente foi levantando, chegando ao ponto que a gente está hoje, felizmente.

Pergunta: E o seu trabalho de modista? Era nesse trabalho que a senhora is para S. Paulo ...

Resposta: Bom, primeiro eu ia pra S. Paulo, que foi um desses camelô que me arrumou no Bom Retiro. Mas, já era costuras assim de carregação, como é até hoje, José Paulino, aquelas coisas. E ai tinha uma senhora, Dona Antonina, uma russa que trabalhava também em S. Paulo. Ela falou: "Frida, eu conheço uma modista russa que mora na Rua Rego Freitas, eu vou perguntar se ela precisa de uma ajudante e depois eu te falo. Ai ela me arrumou e eu fui lá. Mas ela era casada com um engenheiro da Companhia Siderúrgica Paulista, que existe até hoje. E ela estava assim bem de vida, mas ai ele foi ficando doente e o médico disse:" Você não pode ficar aqui no centro" Ai eles foram morar no Mandaqui. Ai a gente perdeu o contato e ai eu fui trabalhando numa casa de modas, em outra, até eu chegar numa butique muito fina e lá que eu aprendi mesmo ser modista.

Pergunta: A senhora  trabalhou nas Modas Mouriscas?

Resposta: Modas Mouriscas. Era uma judia húngara que tinha butique na Praça da Republica, onde hoje em dia é um supermercado.

Pergunta: E lá a senhora fazia costura?

Resposta: Costura não, não. Costura, costura, não. Fazia-se um vestido por semana, alta costura mesmo no tempo do Clodovil e do Dener.

Pergunta: Mais ou menos em época a senhora trabalhou(incompreensível)

Resposta: Não, não, 38, 39 e fiquei três anos e casei. Eu casei e sai. Mas depois de muitos anos eu precisei costurar, então eu fui lá nas Modas Mouriscas e ela dava costura para quem ela conhecia para fazer em casa. Então eu fui buscar costura e costurei assim um tempo para ela. Naquele tempo a gente tinha bastante amizade com a família Penteado, que era o Dr. Nelson Penteado, aqui na Av. Goiás. E a Dona (Beci??) que era a esposa do Dr. Nelson era (Dermato?? Delmanto??) e a  mãe dela, dona Luiza que morava junto sempre com a família Penteado. Os Penteados tinham essa casa enorme ai na Av. João Pedro. Então eu fui buscar a costura em S. Paulo, nessa Modas Mouriscas, então quando eu estava voltando, eu falei :"Vou aproveitar e visitar a dona Luiza". E não desci do ônibus aqui e fui até lá. Ai estava conversando e a dona (Beci ??) falou:" Donde você vem assim cedo?". Era assim oito e meia, nove horas e eu falei "Eu fui buscar costura em S. Paulo". ela falou assim: "Você é burra, não?" E eu falei: " Por que dona (Beci??)"  "Por que não costura para nós?" E ai comecei a costurar para elas. Ai eu já era casada...

Pergunta: A família Penteado tinha confecção ou era só para família?

Resposta: Não, não era só para a família. Ai costurei pra família e tenho contato até hoje em dia com a dona Nenê Penteado que... comecei a costurar para dona  (Beci?), ai veio a nora, a irmã da nora, a mãe da nora e ai eu tinha bastante freguesa, tinha tanto serviço que eu não dava conta.

Pergunta: Quer dizer que essa família só se vestia com a sua costura, não comprava roupa?

Resposta: Não, naquele tempo não se comprava roupa pronta, também não tinha. Ou era carregação mesmo uma costura assim, uma coisa muito ruim ou alta costura que ninguém podia pagar. Então havia as costureiras ou modistas que trabalhavam e faziam roupas.

Pergunta:  E a senhora criava o modelo ou elas davam para a senhora fazer?

Resposta: Na, havia os figurinos, o Vogue, figurinos bons e a freguesa escolhia, comprava o tecido de acordo.

Pergunta: Então a senhora (incompreensível)

Resposta: Não, não, só figurinos mesmo.

Pergunta: Mas senhora via  (incompreensível)

Resposta: Não, não havia isso. Tanto que eu fiquei triste com o Clodovil, por que ele é "O estilista, idiota como ele só, briguento". Eu fiquei tão triste.

Pergunta: Deixar a moda pela política ...

Resposta: Isso, largou tudo e agora não é uma coisa nem outra. Ele tinha um ateliê muito fino na Rua Pamplona. E o Dener também. O Dener casou-se naquele tempo com a Maria Estela e então eu fiz o vestido para a Nenê Penteado, para o casamento deles.

Pergunta: A senhora casou e logo teve filhos, ou não?

Resposta:  Sim.

Pergunta: Como foi a criação de seu filho?

Resposta: Difícil, mas meu marido já trabalhava como ... chegou a ser gerente de uma firma sueca, que era no Prédio Matarazzo , na cidade, Praça do Patriarca. Depois ele falou:" Eu não quero mais ficar preso o dia inteiro no escritório". Começou  a trabalhar como vendedor de aços e orientador dos fregueses. Técnico de aço. Era a (incompreensível)  do Brasil. Depois fundiu-se com a (Consupra??). Ai ele ficou uns anos lá e depois foi trabalhar numa firma austríaca, a Alpina Montana e lá trabalhou até se aposentar.

Pergunta: A senhora acha que criou o seu filho como?  A senhora retomava a cultura austríaca (incompreensível). Seu marido, ou (incompreensível)

Resposta: Não, não. Já entrou aqui no clima. E a gente não sente. Fomos à Áustria em 1998, meu marido e eu, que meu filho já sendo engenheiro na GM ele tinha as milhagens. Então uma milhagem deu passagem ou minha ou de meu marido e uma ele pagou. Então nós fomos à Áustria, mas só tínhamos 15 dias, então não deu para ver muita coisa. Mas a Áustria é muito, muito linda! Muita bonita!.

Pergunta: Foi a primeira vez que a senhora foi?

Resposta: Primeira e única.

Pergunta: Seu marido também?

Resposta: Correspondo até hoje... sim, meu marido também.

Pergunta: Ele não viajava para fora?

Resposta: Não, só aqui no Brasil mesmo. Principalmente só S. Paulo.

Pergunta: E como era a sua vida nos anos 1950 /60?

Resposta: Trabalho, né. Eu costurando em casa e meu marido trabalhando.

Pergunta: Seu filho estudando onde?

Resposta: Meu filho mais velho estudou no Instituto S. Caetano. Ai ele queria seguir para Engenharia, ai meu marido falou :" Eu não sei se  vou poder pagar". Não, eu vou prestar exame na USP. Ele foi, mas Português era eliminatória. Ele é ótimo em Matemática. Mas, Português ele não conseguiu. Então, depois fez no Mackenzie, não passou e fez na FEI. Ele formou-se na FEI. Ele é engenheiro metalúrgico.

Pergunta: E a senhora tem três filhos? Como chamam?

Resposta: Ele é Roberto, Ricardo --- que era danado e nunca quis estudar ---- e a Irene, sempre estudiosa e muito esforçada.

Pergunta: E o Roberto e o Ricardo?

Resposta: Roberto formou-se, casou-se, o casamento não deu certo, separou-se e ai ele estava procurando trabalho e conseguiu na GM. Mas no GM ele  entrou na condição de ficar três meses aqui na GM e já ser transferido para S. José dos Campos. Então ele viajava muito pra Minas e lá conheceu essa que hoje em dia é a esposa dele. E já esta lá. Foi transferido antes do tempo e ficou trabalhando 40 anos na GM e hoje em dia é aposentado pela GM.

Pergunta: E a senhora já tem netos e já tem bisnetos ou não?

Resposta: Tenho netos e bisnetos. Meia dúzia de netos e dois bisnetos.

Pergunta: Que beleza, hem?

Resposta: Os bisnetos estão em Alagoas. O filho na Paraíba, que é o avô dessas duas crianças e o Roberto em S. José dos Campos até hoje.

Pergunta: Com a senhora faz na sua casa, como era e como é a sua família agora?

Resposta: A gente morava na Rua Alegre, na esquina da Votorantin, onde é hoje a empreiteira.

Pergunta: A senhora e seu marido?

Reposta: Não, os moços ainda estavam em casa. Ai casou-se o Ricardo. Não, casou-se primeiro o Roberto. Depois o Ricardo e o Ricardo era vendedor de aços. E a minha nora ... ele ficou em Minas um tempo,  que a minha nora... as duas minhas noras são mineiras. Depois ele foi para Alagoas, como vendedor. Ai ele vendia farinha de trigo em grande quantidade, no atacado. Ai a firma abriu uma filial na Paraíba, então ele foi pra lá. Mas essa firma não foi pra frente. Então, ele é aposentado, mora aposentado lá na Paraíba, em João Pessoa. A filha é casada e tem duas crianças, um menino e uma menina. A menina tem um nome tão bonito, mas tão diferente, que eu não consigo lembrar. Mas morando tão longe, a gente perde o contato.

Pergunta: Nessa época de final de ano eles não vêm para cá, para visitar com a família?

Resposta: O Roberto convidou a gente para ir pra lá, mas eu não sei, a Irene é muito turrona, ela não quer ir. Então a gente ficou assim num dilema.

Pergunta: A Irene é solteira?

Resposta: A Irene é separada.

Pergunta: Tem filhos?

Reposta: Felizmente não. Não porque, quando um casal não se entende, eu não acho bom, por quê eu acho que os filhos sofrem. É minha opinião pessoal.

Priscila: (incompreensível)

Resposta:  Como?

Pergunta: A senhora falou que tinha um filho inglês e outro alemão..

Reposta: Eu não! Minha sogra.

Pergunta: E como é que era?

Resposta: Meu marido era alemão e nasceu na Alemanha em 1920 e meu cunhado nasceu na Inglaterra cinco anos antes. Ele é inglês, foi inglês. Ele já é falecido. Então quando teve esse negocio de nazismo, meu sogro queria voltar e ela falou "Não, vai ser um irmão combatendo com outro", por que estavam numa idade que ainda seriam convocados. Muitos desses alemães que foram para lá, mesmo com idade já alta ainda serviam exercito por lá na Alemanha. Ele pegou todos e minha mãe sempre dizia "Olha" não dá para traduzir assim o (incompreensível) " Fiquem em casa porque já estão convocando os meninos de 14 anos. Isso não é mentira, é verdade.

Pergunta: (incompreensível)

Resposta: (incompreensível) " podes ficar sossegado, que não estão convocando crianças". É um modo de revolta do povo, né? Que houve mesmo. Naturalmente eles não iam combater, mas tem que ver as coisas que eram do Exercito naquele tempo. Muito rigoroso.

Pergunta: Dona Frida, a senhora lembra da chegada da televisão por aqui?

Resposta: Ah ah! A gente ia na casa do amigo que estava melhor de vida, a gente ia para assistir televisão também, né? Hoje em dia nós temos não sei quantos canais e não sabemos nem o que assistir, de tanta variedade.

Pergunta: Quais programas vocês viam?

Resposta: O Clube dos Artistas, lembra? E meu marido, naturalmente, futebol, e havia muitos documentários naquele tempo. Mostrava parte assim dos outros paises e a gente gostava de assistir.

Pergunta: Tempo das novelas?

Resposta: Não, eu nunca assisti novela porque não tinha tempo, por que costurava, então não dava tempo.

Pergunta: Quando teve televisão em sua casa?

Resposta: .Aqui, eu já morava aqui na casa... 1957, por ai. Preta e branco, naturalmente. Hoje em dia tenho duas em casa, uma que era da minha filha quando casou, pois as coisas dela, ela ainda trouxe para casa, então ela tem a televisão pequena e eu tenho a nossa velhinha.

Pergunta: Dona Frida, está acabando a fita, então a gente pede para a senhora deixar uma mensagem gravada; a senhora quer falar alguma coisa, a senhora quer deixar uma mensagem viva, quer ...

Resposta: Todos, não só são-caetanenses, sejam mais amigos e cultivem muito a amizade que é muito importante. Eu fui muito bem recebida aqui, estou com orgulho de vocês. E orgulho aqui do IMES e S. Caetano, tem tudo o que a gente precisa, só que o são-caetanense tem ainda a mania de não comprar em S. Caetano, só comprar em S. Paulo. Mas isso é verdade, isso é antigo. Acho que se entrosou nas pessoas por que não havia mesmo em S. Caetano. Havia a loja S. Luis, do turco, do seu Rafael, mas não tinha um comercio forte. 

Pergunta: Então  gente agradece muito a senhora.

Resposta: Não tem nada que agradecer.

Pergunta:...contar toda essa belíssima história ...

Resposta: ... fico contente de poder fazer qualquer coisa ...

Pergunta: Isso é só o começo de nossa amizade (risos).

Resposta: Obrigada, viu! Teu nome?

Resposta:  Priscila.

Entrevistada: Vocês têm uns nomes bonitos! E você? Mariana.

Entrevistadora: Eu não sou e falar muito.

Entrevistada:: Não! Mas você é muito tagarela! Fala! Como fala!

Entrevistadora: O que ela tem de bonita, tem de tagarela! Ela pensa que é quietinha! (ri).

Entrevistada: Ela pensa ..

Entrevistadora: eu também sou (incompreensível)

Entrevistada: Sobrenome?

Entrevistadora: Lacner

Entrevistada: Nós temos um pastor, Lacner. Fala alemão.

Professora Priscila: Nós podemos continuar a conversa lá no café.

Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul